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Dois anos de inclusão social na prática - como tudo começou e onde queremos chegar


Considerei o tema da redação do Enem - a formação educacional de surdos - um presente de aniversário de dois anos de registro (dia 05 de novembro de 2015) do Instituto Modo Parités.

Celebrar dois anos de um negócio social significa muito para mim, pois criar o Instituto Modo Parités, em julho de 2015, quando decidi deixar a segurança da carreira executiva - após quase 20 anos no ambiente corporativo - parecia uma missão impossível.

Mesmo estando realizada com meu trabalho, minha principal motivação para dar esse passo foi o incômodo que eu sentia diante do desconhecimento geral sobre como promover a inclusão de pessoas com deficiência, pessoas negras, LGBT, enfim… uma gama diversa que geralmente é excluída da convivência social.

Sentia também uma forte intuição de que eu poderia contribuir mais se pudesse atender a várias instituições e empresas e ampliar minha atuação na formação de lideranças inclusivas, de forma que todos ganhem: pessoas, empresas, clientes, sociedade.

Nesse primeiro momento recebi muito apoio de pessoas incríveis, experientes, generosas, engajadas e competentes, e tenho infinita gratidão a cada uma delas (sempre que alguém me solicita mentoring ou mesmo um "café para dar uma luz” eu atendo, lembrando do quanto fui amparada na minha entrada na dimensão do empreendedorismo social).

Para dar os primeiros passos, um desafio extra que enfrentamos é o período crítico que estamos atravessando no Brasil, nos aspectos social, ético, econômico e político, o que faz com que chegue a ser uma ousadia empreender em um ambiente tão instável e com números desalentadores - uma, a cada cinco pequenas empresas, fecha em menos de dois anos, segundo o Panorama dos Pequenos Negócios 2017 do Sebrae.

Durante quase 11 anos trabalhei ao lado de uma das maiores líderes empresariais e sociais do Brasil, Luiza Helena Trajano Rodrigues, atual presidente do Grupo Mulheres do Brasil e do conselho de administração do Magazine Luiza. Ela foi uma grande incentivadora nesse meu novo caminho, e também foi minha mestre e guru em nosso relacionamento cotidiano profissional. Uma de suas afirmações conhecidas, da qual me lembro bem é a de que, para os negócios, ela prefere a crise do que momentos de calmaria, onde relaxamos e esquecemos de fazer o que é importante. Confiante e incentivada, acreditei que seria possível.

A fase de ideação e definição de metodologia, visão, valores e propósito aconteceu durante alguns anos antes, quando eu me preparei intuitivamente e de forma integrada para dar esse passo. Considerei os aspectos material, emocional, intelectual e espiritual. Revisitei minha missão nessa existência.

A primeira etapa foi transposta nos primeiros meses - uma trilha burocrática, administrativa, jurídica, contábil, financeira, com estruturação de equipes, estabelecimento de parcerias e definição de fornecedores.

Muitas tomadas de decisão, utilizando instrumentos como canvas, design thinking, sistema lean, e tantas outras ferramentas clássicas de planejamento estratégico e definição do modelo de negócio, estatuto, código de conduta, processos de gestão e de mensuração.

A opção foi pelo modelo 2.5, com 100% do lucro revertido para causas de inclusão social. Para garantir a sustentabilidade em todos os aspectos, mantivemos rigorosamente em dia os balanços financeiros e o DRE de cada cliente, medindo o pulso trimestralmente para fazer redirecionamentos e tomar decisões calcadas em bases seguras.

O método exclusivo do Instituto Modo Parités, que contribui para o fortalecimento da cultura organizacional de empresas e instituições a partir da preparação de gestores para a inclusão e diversidade, tem demonstrado a eficácia esperada nos diferentes setores dos mais de 50 clientes atendidos nesse período.

Os indicadores de avaliação de impacto demonstram crescimento em contratação e retenção em segmentos desafiadores como limpeza urbana, varejo de eletroeletrônicos, restaurantes e indústria de alimentos, entre outros. Alguns clientes já alcançaram a cota exigida por Lei, outros avançaram em percentuais inéditos com ações afirmativas e sustentáveis, acompanhadas periodicamente.

Ao todo, foram mais de 400 gestores formados, e mais de mil pessoas com deficiência incluídas em postos de trabalho.

No setor da educação temos a gratificação de proporcionar aos professores, familiares e profissionais envolvidos a segurança para ajudar as crianças e jovens com deficiência a desenvolver seu potencial e buscar sua autonomia. Na última escola em que trabalhamos, entre tantos resultados a se comemorar, um deles foi a simulação de entrevista de emprego feita por professores com todos os alunos com deficiência do ensino médio, oferecendo a esses jovens uma oportunidade ímpar de preparação para a etapa posterior de suas vidas.

Além da atuação como consultora e palestrante, tenho a satisfação de participar também de redes colaborativas que muito me abastecem em fortalecimento da minha convicção inicial de que é possível sim adotar um jeito eficaz para promover a diversidade e inclusão, com profissionalismo, seriedade, busca por resultados e, sobretudo, empatia, amor pela causa e vontade de construir no coletivo.

A união de pessoas diversas, especialmente os principais interessados (nada sobre nós sem nós) para a promoção da inclusão é fundamental - e o essa visão determinou a escolha do nome Modo Parités - uma expressão em latim que significa “somente juntos”. Uma das nossas premissas é a de sempre contratar profissionais com deficiência para os nossos projetos e atividades, e também para avaliar a acessibilidade de nossas comunicações.

Onde queremos chegar?

Se, há dois anos, a inclusão social era um assunto de grupos especializados, hoje estamos em uma sociedade na qual o tema da inclusão é discutido por, no mínimo 6 milhões de pessoas que prestaram o Enem e suas famílias, 10 milhões de pessoas surdas (que fizeram ou não as provas do Enem) e suas famílias, professores e envolvidos com a educação em todo o país, todas as pessoas antenadas e envolvidas ou interessadas na inclusão social e direitos humanos.

Queremos chegar a um ponto onde não seja mais necessária uma Lei de cotas ou o debate do tema da inclusão, onde todos possam ser valorizados como são, tenham oportunidades iguais com equidade de condições para alcançar sua autonomia. Até chegar lá, queremos caminhar juntos, lado a lado, colaborando e apoiando uns aos outros nessa trajetória de evolução, onde todos ganham.

Ivone Santana é palestrante, consultora de inclusão social e sustentabilidade, membro do grupo diretor da Rede Empresarial de Inclusão Social, membro da Rede de Consultores Uniethos, integrante do Grupo de Igualdade Racial da ONG Mulheres do Brasil e fundadora do Instituto Modo Parités – Inclusão Social na Prática.

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