Dia de todas as mães?
Por Gabriele Felix
Todos os dias, 270 mil bebês nascem no mundo e, portanto, 270 mil mulheres tornam-se mãe no mundo. Mãe, essa palavra tão pequena, passa a ter grande significado, impossível definir em uma só palavra. Uma ligação profunda, que não se baseia no sangue que corre nas veias, mas sim nos sentimentos, na afeição que cresce e se desenvolve dentro dos nossos corações. Por outro lado, viver a maternidade também pode ser uma das experiências mais transformadoras e ricas para as mães.
Porém, mesmo sendo óbvia sua grande importância para a vida, muitas mães pagam altos preços decorrentes, justamente, da própria experiência da maternidade. Desde que as mulheres decidiram conquistar sua autonomia e realização profissional, há algumas décadas, elas foram desamparadas por governos e sociedade, que criaram poucas políticas públicas, estrutura de saúde e suporte para as crianças.
Soma-se a isso o fato de que quase 50% das famílias brasileiras são chefiadas por mães solo, e que, mesmo quando têm um companheiro, culturalmente a função de cuidar da casa e dos filhos é imputada às mulheres, sobrecarregando-as a ponto de trabalharem 30% a mais que os homens. Sejam elas executivas – a minoria nas grandes organizações – ou sejam elas a maioria das mães que se encontram em situações de maior vulnerabilidade por falta de acesso a renda e ao emprego, ou por violência e discriminação, por serem negras, indígenas, mulheres com deficiência ou, simplesmente, mulheres.
Nesta reportagem foram levantados alguns aspectos que afetam as mães, e que podem ser objeto de ações afirmativas para organizações e políticas públicas.
Mortalidade materna
Aproximadamente 830 mulheres morrem, também diariamente, por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto no mundo. Uma parte representativa desses números mulheres que vivem em áreas rurais e comunidades mais pobres. Jovens e adolescentes enfrentam um maior risco de complicações e morte como resultado da gravidez e cerca de 75% das mortes são decorrentes de hipertensão, hemorragias graves (principalmente após o parto), infecções (normalmente depois do parto), complicações no parto, cesárias desnecessárias e os abortos inseguros.
Licença maternidade – direito e discriminação
A licença maternidade é um direito garantido pela Constituição de 1988 a todas as mães. Resumidamente, é o período de 120 dias (com possibilidade de prorrogar por 60 dias mais) em que fica afastada do trabalho toda mulher que está prestes a ter um filho, acabou de ganhar um bebê ou adotou uma criança. Além da licença-maternidade de 120 dias, as mães que trabalham e que amamentam nos primeiros seis meses de vida do bebê têm direito, por Lei, a duas pausas, de meia hora cada uma para amamentar. A regra vale para mães biológicas ou adotantes de crianças até seis meses de idade, e para casais de lésbicas em que ambas as mães amamentam.
Porém, junto com o direito, é comum o relato de mulheres que não foram contratadas, promovidas, transferidas para uma posição melhor ou não tiveram acesso a programas de aceleração de carreira e de desenvolvimento por estarem em “idade reprodutiva”. Além disso, segundo trabalho divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, há aumento imediato no desemprego das mães ao fim da licença-maternidade e metade das trabalhadoras mães saem do mercado de trabalho em até 24 meses após retornarem da licença, normalmente por iniciativa do empregador.
Processos de adoção e a pandemia – boa notícia
Para encerrar esta reportagem, uma boa notícia! Mesmo com todas as dificuldades, a experiência da maternidade é, na maioria das vezes, bem-vinda e desejada. Uma boa decisão veio a partir da pandemia da Covid-19, quando diversos setores tiveram o seu funcionamento atingido, inclusive a Justiça brasileira. Com um impacto de atrasos no trâmite processual das adoções, em São Paulo, na tentativa de evitar a permanência em casas de acolhimento – e por consequência aglomerações –, crianças e adolescentes que já estavam em processo avançado de adoção puderam passar a quarentena na casa dos pretendentes à adoção, para evitar o elevado risco de contágio devido ao “confinamento” nas instituições e a rotatividade de profissionais que prestam atendimento.
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