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Recursos de acessibilidade podem garantir autonomia e independência a pessoas surdocegas


fundo azul. no canto inferior está o logo do instituto modo parités. no centro está uma ilustração de uma mulher branca de cabelos castanhos presos em um coque e a citação "É maravilhoso ter ouvidos e olhos na alma." Helen Keller. No canto inferior estão as informações 27 de junho Dia Internacional da Pessoa Surdocega.

Por Raquel Paoliello


Dia 27 de junho é o dia da conscientização sobre a surdocegueira, um tipo de deficiência pouco divulgada, porém, mais comum do que se imagina. É considerada uma deficiência múltipla: visual e auditiva. Uma pessoa surdocega, portanto, é ao mesmo tempo cega e surda, não enxerga e não ouve. Nessa reportagem, a jornalista Raquel Paoliello entrevista Andrey Marcondes, profissional de Design e pessoa com surdo-cegueira, para desmistificar preconceitos e discriminações.


A data tem a finalidade de divulgar que, desde que preparada e utilizando os recursos adequados, a pessoa com surdocegueira pode viver sua vida, trabalhar, estudar, e se desenvolver com autonomia. O dia foi instituído em homenagem a Helen Keller, que nasceu nesse dia. Ela foi a primeira pessoa surdocega fazer um curso de graduação.


Segundo a legislação brasileira, a surdocegueira é considerada deficiência múltipla: visual e auditiva. Entre as deficiências visuais são várias as classificações consideradas aceitas para atender a Lei de Cotas para o trabalho – cegueira total, baixa visão, visão monocular e a surdocegueira. Pessoas com deficiência visual podem ter autonomia e independência, desde que passem pela reabilitação e utilizem tecnologias assistivas recomendadas para cada caso.


O mesmo vale para deficiências auditivas, que podem ser várias e, inclusive, profunda, leve e unilateral. Ao contrário do que se supõe comumente, algumas pessoas surdas podem falar e até ouvir utilizando aparelhos auditivos como apoio. Existem dois tipos de aparelho: o externo e o implante coclear, que é interno. As pessoas surdas sinalizadas utilizam da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para se comunicar.


Dentro da surdocegueira, existem também subdivisões, isso quer dizer que muitas vezes a pessoa surdocega não perde os dois sentidos completamente, ou simultaneamente, podendo ter afetado um ou outro sentido parcialmente. Nessa situação, as pessoas podem utilizar diferentes recursos e tecnologias assistivas para terem uma vida mais autônoma.

As causas podem ser pré-natais (durante a gestação) e pós-natais, após o nascimento do bebê ou a surdocegueira pode ser adquirida em qualquer fase da vida. A pessoa surdocega “pré-linguística” nasce com essa condição ou a adquire nos primeiros meses após o nascimento, estágio que precede a aquisição da linguagem, apresentando uma combinação grave de perda auditiva e visual. A pessoa surdocega “pós-linguístico” adquire a deficiência depois da fase de aquisição de uma língua, sem ter deficiência auditiva ou visual antes disso.

Assim como o surdo, o surdocego pode se comunicar através da Língua Brasileira de Sinais, a Libras. Como existem vários tipos de surdocegueira e como a surdocegueira pode afetar mais um sentido e ser mais leve ou ser bem grave e afetar todos os sentidos, a pessoa precisa de um intérprete de Libras, na categoria de Libras-tátil, para auxiliá-la em sua comunicação.


Segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revisto em 2017, existem no Brasil mais de 6 milhões de pessoas com deficiência visual e mais de 10 milhões de cidadãos são pessoas surdas, dos quais 2,7 milhões possuem surdez profunda, e, por isso, não escutam absolutamente nada. Estima-se que haja 1.200 pessoas surdocegas no Brasil.


“A surdocegueira pode ser congênita ou adquirida e cada um costuma lidar de uma forma com a deficiência, depende muito de autoaceitação e rede de apoio”, afirma o profissional de Design, Andrey Marcondes, 30. Ele tem surdo-cegueira com baixa visão, e informa que precisa de acessibilidade no seu dia a dia e utiliza também as legendas para trabalhar. “O mercado de trabalho não é nada fácil para pessoas com deficiência, há pouca confiança, pouco valor e isso reflete na luta diária de estar sempre fazendo mais, sempre buscando compensar, mas com a visibilidade em acessibilidade de inclusão isso está melhorando um pouco. A inclusão está melhorando sim, mas ainda a passos bem lentos”.


Marcondes cita que, fora do Brasil por exemplo, em outros países como Portugal, a pessoa com deficiência, sendo estudante, morador, ou fizer sua cidadania, terá direito a um auxílio moradia. “A informação e a divulgação são fundamentais para que as pessoas entendam o dia a dia das pessoas com surdocegueira, e é extremamente importante esse compartilhamento de informações para que a gente possa ter mais apoio, mas visibilidade e principalmente oportunidades.” Marcondes diz que a Libras deveria fazer parte da grade curricular para que ampliasse as opções de comunicação e poder tornar ainda mais acessível. E para se ter uma ideia de seus benefícios, a Libras pode ser utilizada também por pessoas ouvintes em cenários de longa distância que tem ruídos, situações de emergências.


Para finalizar a surdocegueira precisa ser muito conhecida e para isso ela precisa ser divulgada e precisamos conhecer e nos informar cada vez mais.


Libras e Libras-tátil

Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais, uma língua de modalidade gestual-visual onde é possível se comunicar através de gestos, expressões faciais e corporais. É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão desde 24 de Abril de 2002, através da Lei nº 10.436. A Libras é muito utilizada na comunicação com pessoas surdas, sendo, portanto, uma importante ferramenta de inclusão social. Assim como existem várias línguas faladas no mundo, também existem várias línguas de sinais pelo mundo. Cada país tem sua própria língua de sinais, tal como temos nossa própria língua falada.


A Libras-tátil é um método da língua brasileira de sinais, adaptado ao tato, pelo qual o tradutor se permite tocar enquanto fala em Libras, assim a pessoa surdo-cega pode sentir seus movimentos e fazer a leitura. O método foi amplamente divulgado pela educadora Annie Sullivan, ou Johanna Mansfield Sullivan Macy, norte-americana nascida em 1886, mais conhecida por ter sido a professora de Helen Keller, uma adolescente surda-cega a quem ensinou por meio da Língua de sinais por intermédio do tato. Helen Keller tornou-se escritora, conferencista e ativista social norte-americana, que foi a primeira pessoa surdocega da história a conquistar um bacharelado.



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