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Que legado vamos deixar para o mundo?



Como integrante do grupo de coordenação dos trabalhos por quase dois anos (uma parceria do Instituto Ethos e REIS) recebi a importante tarefa de redigir e organizar o prefácio do Guia Temático de Indicadores para Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho, lançado em 26 de abril de 2018. O texto do prefácio foi elaborado colaborativamente com queridos colegas membros do grupo diretor da Rede Empresarial de Inclusão Social, e traz uma breve memória dos principais marcos das conquistas das pessoas com deficiência no Brasil:


Que legado vamos deixar para o mundo?


Estima-se que, dos 207,7 milhões de brasileiros, um total de 45 milhões de pessoas tenham uma ou mais deficiências. Deste número, mais de 3 milhões (cerca de 7%) têm ensino superior, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. Mesmo com a promulgação da Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91), que estabelece cotas de contratação da pessoa com deficiência em empresas privadas com mais de 100 funcionários, os poucos e defasados (quantitativa e qualitativamente) dados oficiais sobre a inclusão de profissionais com deficiência nas empresas mostram que apenas 30% das pouco mais de 1 milhão de vagas destinadas a essa população foram preenchidas, apresentando o grande desafio de vencer as barreiras que ainda estão colocadas para esse público.


Para mudar essa realidade, que vai além da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, um pequeno – porém expressivo – grupo de pessoas foram à luta, realizaram seminários, conferências e manifestações, durante anos de constância e persistência, que culminaram na criação a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Esse estatuto, que entrou em vigor em janeiro de 2016, é considerado uma das legislações mais avançadas do mundo e teve como redatora a deputada federal Mara Gabrilli (antes do acidente que a tornou tetraplégica, ela foi aluna do sociólogo e João Ribas, cuja importância no movimento é descrita a seguir). Um marco regulatório importante, que sedimentou um cenário debatido desde os anos 90 e que se fortaleceu a partir da Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, ratificada pelo Congresso Nacional brasileiro em 2007.


Existem inúmeros avanços no que concerne à proteção dos direitos sociais básicos, a fim de promover a equidade de oportunidades às pessoas com deficiência, mas ainda estamos longe de ser uma sociedade inclusiva. Superar a segregação da pessoa com deficiência imposta pela sociedade durante séculos passa pelo envolvimento de todos, em especial das famílias, médicos, professores e empresários.


No contexto empresarial, para discutir promoção da diversidade, em 2012 a Serasa Experian promoveu um fórum que contou com a participação especial da representante da International Labour Organization de– Genebra (Organização Internacional do Trabalho, ou OIT, em português), Sra. Debra Perry, que falou sobre redes empresariais internacionais que atuam na promoção da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Na ocasião, os participantes decidiram instituir uma rede brasileira, a Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS), formada por gestores, responsáveis pela temática da diversidade e inclusão social em suas empresas de grande porte nacionais e multinacionais, submetidas a legislação que define os percentuais de contratação de pessoas com deficiência.


Esse modelo inédito de trabalho colaborativo entre empresas – com a finalidade de incluir pessoas comumente discriminadas no mercado de trabalho – deu muito certo desde o início graças ao apoio e adesão imediatos das empresas que se uniram para dirigir a rede: Serasa Experian, Tozzini Freire Advogados, Natura, IBM, Accenture, EY, GTCOM, Raia-Drogasil (RD), seguidas por Magazine Luiza, JLL e Microsoft. Atualmente, a REIS é composta por mais de 100 empresas, representando o setor produtivo e constituindo um espaço de interlocução entre os diversos setores: organizações não governamentais, organizações da sociedade civil, Congresso Nacional, Poder Executivo Federal, Municipal e Estadual, Poder Judiciário, ministérios públicos, assembleias legislativas estaduais e câmaras municipais.


Em sua fundação, a REIS teve como dínamo o sociólogo e escritor João Ribas, precursor do movimento pela autonomia da pessoa com deficiência por meio do trabalho formal. Até março de 2014, quando sofremos sua perda, ele foi o integrador, o estímulo e a inspiração dos projetos da REIS. A trajetória profissional de Ribas representa também a evolução da agenda de inclusão das pessoas com deficiência no Brasil. Nos anos 70, ele foi protagonista das lutas em uma importante transição na sociedade brasileira, quando as pessoas com deficiência saíram do seio familiar e lançaram-se à vida em sociedade, e permaneceu na causa.


Desde 2013, a REIS busca ouvir, de forma sistematizada, as empresas participantes do movimento, assim como os profissionais com deficiência contratados, com o objetivo de entender os caminhos e desafios dessa agenda no meio corporativo. Um desafio comum está na obtenção de informações confiáveis, que possam ser replicadas e comparadas, uma condição básica para a gestão e a melhoria da inclusão, e para suprir as lacunas nos dados oficiais, que representam um grande problema para os gestores nas empresas. E, em 2016, firmamos uma parceria com o Instituto Ethos a fim de construir indicadores voltados especialmente para o setor empresarial e outras instituições que querem incorporar os princípios da inclusão social em sua cultura organizacional.


Após o lançamento, em 2015, do primeiro Manual para médicos do trabalho e profissionais de segurança, em parceria com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), e do Pacto pela Inclusão em 2016, aderido pela alta liderança das organizações, é com muita satisfação e honra que celebramos o Guia temático dos Indicadores Ethos-REIS: Inclusão das Pessoas com Deficiência. Certamente, trata-se de um marco, em um momento de nossa sociedade no qual as crianças brasileiras com deficiência vêm recebendo mais apoio, estímulo e respeito, e que a partir da promoção de uma cultura de inclusão nas empresas, elas poderão ter acesso as oportunidades de trabalho de forma mais equitativa quando chegarem a vida adulta.


Além disso, a publicação do guia é uma das formas de honrar todo o empenho de João Ribas para a autonomia das pessoas com deficiência, bem como sedimentar o maior propósito da REIS: inspirar outras empresas a promover a cultura da inclusão, para que juntos possamos alcançar um objetivo comum a milhões de pessoas, uma sociedade mais equitativa para todas as pessoas.


Também consideramos este guia uma excelente ferramenta para as empresas atuarem como agentes de transformação. Com ele, poderão saber o estágio e comparar a evolução de suas práticas e à dos demais players de seu segmento, obtendo informações preciosas para as tomadas de decisão, definição de estratégias e ações baseadas em dados confiáveis, que, por sua vez, serão úteis no engajamento de lideranças no tema.


Enquanto grupos estruturados, somos responsáveis por zelar pela garantia dos direitos humanos fundamentais e reparar o cenário histórico de exclusão e de sofrimento, devido ao qual talentos foram desperdiçados por não terem a oportunidade de demonstrar suas capacidades.


Acima de tudo, como líderes e gestores de grandes companhias, temos a oportunidade profissional, pessoal e cidadã de deixar um legado positivo, contribuindo para que todos tenham acesso às oportunidades, para que todos brilhem e ganhem!


REDE EMPRESARIAL PELA INCLUSÃO SOCIAL


Prefácio: Ivone Santana, consultora de diversidade e inclusão e fundadora do Instituto Modo Parités, com a participação de Andréa S. A. Regina, head de sustentabilidade corporativa da Serasa Experian; Eliane Ranierie, head de diversidade e inclusão da IBM até 2017; e Fernando Braconot, consultor de diversidade e inclusão da RD*.


* Os autores do prefácio são membros do grupo diretor da REIS desde 2012.

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