Dia dos Pais - pais com deficiência, pais adotivos, pais de filhos com deficiência
Raquel Paoliello, jornalista e pessoa com deficiência, escreve este sensível artigo falando de sua visão sobre o Dia dos Pais, sobre pais que abandonam filhos com deficiência e sobre pais que escolhem a paternidade e parentalidade mesmo sabendo que enfrentarão grandes desafios.
Os pais das pessoas com deficiência, em sua maioria, são muito ausentes ou não aceitam ou ainda abandonam os filhos quando descobrem que a mãe está grávida e a criança possui deficiência. As crianças com deficiência têm o apoio do pai com raras exceções.
O ator Marcos Mion foge das estatísticas dos que abandonam: ele tem 3 filhos e um deles, Romeo, está no Espectro Autista, e todos são tratados com amor e orgulho por ele. No universo das pessoas com deficiência, outro pai orgulhoso, esse uma pessoa com deficiência é o jornalista Jairo Marques: ele possui poliomielite e tem uma filha pequena e sempre demonstra amor por ela.
Inicialmente entendo que nós, nossos pais e mães, fazemos parte da comunidade das pessoas com deficiência, de um modo específico, mas fazemos; isso significa que também devemos ser ouvidos quando as decisões envolvem a nossa realidade. Exemplo máximo disso é a questão do direito à escola inclusiva de qualidade.
Todavia, não acredito que pais e mães sejam proprietários de seus filhos, ou coisa que o valha, de maneira que possamos definir de modo unívoco o que é bom ou mau para eles. Tendo deficiência ou não, filhos devem ser ouvidos, pois são os protagonistas dessa história. “Mas eles são crianças”, alegam alguns. “Não podem emitir ideias válidas ainda”.
A maioria dos pais, quando descobre que o seu filho (a) tem deficiência, a primeira ideia que vem à mente já é o abandono, muitas vezes, logo após o nascimento. Mas há aqueles que escolhem ser pais, passando pelo demorado processo de adoção, que envolve, junto com a espera, também muito afeto.
Quando trata-se de uma criança com deficiência, a adoção possui um menor número de realizações do que as demais, considerando que crianças com deficiência possuem uma maior vulnerabilidade porque, além de naturalmente serem dependentes por serem crianças, estas possuem limitações, dentro de um seio social onde a cultura estima a perfeição e a estética, trazendo consigo, na maioria das vezes, os resquícios da rejeição e do abandono dos pais biológicos.
Conforme os dados estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção, na data de 06 de fevereiro de 2015, o Brasil conta com um total de 5.699 crianças e adolescentes disponíveis para a adoção, onde 3.219 são meninos e 2.480 são meninas. Desse total, 219 são crianças com deficiência física e 478 são crianças com deficiência intelectual.
Em geral, quem questiona os novos formatos de família ainda está preso ao modelo propaganda de margarina que, na realidade, é um dos formatos existentes na sociedade, mas não é o único”, afirma a psicóloga Anna Paula Uziel, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). “Ao saber do processo de adoção, minha própria mãe questionou se eu achava que aquilo estava correto. Ela queria saber como eu ia explicar para a criança depois”, conta Marcos Leonardo*, 36 anos, cientista político, casado há 14, é pai de um menino de cinco anos.
Juntos, o professor Toni Reis, 54 anos, e o tradutor David Ian Harrad, de 60, adotaram Alyson, 17, Jéssica, 15, e Filipe, 13. Eles encontraram uma maneira diferente de abordar a situação. “Pedimos para os nossos filhos listarem as perguntas mais inusitadas e, depois, nós os ajudamos a respondê-las”, conta. E a lista foi feita. Nela, aparecem questionamentos como: “Seus pais influenciaram você a ser gay?”, “Quem é o ativo e quem é o passivo?”, “Você acha sua família normal?” e “Seus pais já sentiram atração por você?”. Toni acredita que foi um exercício saudável e que esse tipo de conversa ajuda a prepará-los para viver em sociedade.
Fontes: Blog Cadeira Voadora - Laura Martins
Comments