Mês da Consciência Negra é um assunto para toda a sociedade!
Descrição da imagem: Fundo marrom com ilustração de um iceberg. Na parte superior do iceberg estão os termos: crimes de ódio, insultos raciais, piadas racistas. Na parte inferior do iceberg estão os termos: racial profiling, white washing, complexo de salvador branco, diversity washing e tokenismo. No canto inferior direito está o logo do instituto modo parités.
Dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. Nos EUA, a data existe desde 1926, e no Brasil foi adotado apenas há 9 anos, em 2003. No dia 28 de outubro de 2021, semana passada, mais um passo foi dado para a conscientização sobre o tema, com a decisão do STF de considerar injúria racial como crime de racismo, aumentando assim a possibilidade de punição de quem pratica esses atos.
Quando falamos sobre racismo, a maioria das pessoas já entende que certas atitudes são inadmissíveis, como está exemplificado na imagem na parte superior do iceberg: crimes de ódio, insultos raciais, piadas racistas. No entanto, muitos comportamentos foram normalizados em nosso cotidiano, e passavam despercebidos por quem pratica, mas também são extremamente inadequados e dolorosos para quem os recebe, que é o caso dos termos na parte inferior da ilustração.
Durante o mês da consciência negra iremos explicar alguns um desses termos. E por que precisamos dessa data? Porque o racismo é a base estrutural da sociedade brasileira e, independentemente da cor da sua pele, estamos todos inseridos neste contexto e temos um papel importante. A escolha que podemos fazer é: continuaremos insistindo em atitudes que perpetuam erros ou seremos ativas e ativos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária? Como diz Djamila Ribeiro em seu livro “Pequeno Manual Antirracista”, precisamos perceber o racismo internalizado em nós. O racismo está na estrutura da nossa sociedade, precisamos refletir sobre e nos desconstruir diariamente.
Se você ainda não buscou informações sobre o tema, vamos começar pelo aspecto histórico: a História oficial do Brasil ignorou a verdadeira participação das mais 4 milhões de pessoas que foram sequestradas de países do continente africano e brutalmente comercializadas para o trabalho escravo no país, durante 300 anos, entre os anos de 1.500 a 1.800. Assim, continuou ignorando e negando o direito de cidadania (moradia, educação, saúde, trabalho) às pessoas de descendência africana, quando acabou o regime e às pessoas foram colocadas para fora das propriedades, onde estavam cativas e em trabalho escravo, sem qualquer programa para que tivessem condições de uma vida digna.
Atualmente, 130 anos após o fim do regime oficial de escavidão, as pessoas negras (pretos e pardos, segundo classificação do IBGE) representam 54% dos brasileiros. Este percentual cresce assustadoramente quando são analisadas situações de vulnerabilidade, renda, emprego, violência. As pessoas negras representam de 80% a 90% nesses quadros. É uma realidade que coloca milhões de pessoas em condições desfavoráveis de desenvolvimento e dignidade. E, por outro lado, os percentuais são mínimos quando se trata de representatividade em ambientes de poder.
Desde sempre, toda a História ensinada foi através da perspectiva eurocêntrica, que batizou o período de colonização de desbravamento, conquistas e descobertas e abrandou o extermínio de milhões de indígenas que aqui já estavam e a crueldade imposta aos povos africanos. Um aspecto frequentemente esquecido foi a contribuição econômica, amplamente divulgada pelo trabalho braçal, mas esquecida a parte fundamental da transferência do conhecimento das tecnologias mais sofisticadas da época em plantio, mineração, criação de rebanhos, cura e construção civil.
O mês da consciência negra é, portanto, uma forma simbólica de trazer visibilidade para essa história e, mais do que isso, dar luz e contribuir para disseminar o conhecimento sobre as questões raciais e o racismo no país. Além da proposta de reparação por meio do re-conhecimento da história, o Dia da Consciência Negra comemora também a riqueza e a resistência cultural dos povos africanos e da diáspora negra, que constitui grande parte do que chamamos a cultura brasileira. Culinária, religião, música, literatura, esportes, dança, muitos são os aspectos incorporados.
É também uma data para comemorar as conquistas que o movimento negro brasileiro tem mobilizado, como cotas nas universidades, nos concursos públicos, nas propagandas e nas eleições. As conquistas legais de criminalização do racismo e de injúria racial são um avanço neste sentido.
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